A antologia que o leitor tem em mãos procura na imagem do tempo devorador – Chronos – percorrer seis de suas imagináveis faces, que se organizam em seis vozes femininas. Cada uma oferece 20 poemas, número homogêneo que pontilha os poros da imagem efêmera do tempo e daquilo que ela deixa impresso na retina de cada uma dessas vozes: é Kairós a querer gritar na contramão do fluxo contínuo do movimento devorador de tudo.

O que o leitor irá encontrar no corpo do tempo enlaçado é aquilo que este deixa como marca de si próprio: o sujeito e sua memória. Na matéria do corpo – mãos, dedos, olhos – as sensações e desejos, o passado e o presente se deixam desenhar na linha do texto um querer ser poesia do momento, ou melhor, um querer reverter a prosa do cotidiano vivido naquilo que se tem como ideia de verso na memória.

E é com liberdade de gosto e de movimento que cada uma dessas faces do tempo encontra um lugar de expressão, que vai da elaborada imagem do improvável rarefeito, asfixiado em versos inacabados e incompletos, porque do tempo resgatam a frustração para com o outro, passando pela perda e a saudade, para se abismarem na corrosão de um exército de formigas a mitigarem a fala e a encetarem a saga desses poemas a auscultarem a alma, essa instância abstrata e fugidia, que revela em sua confissão a precariedade de tudo.